Túneis abaixo da Cidade de Raccoon

O menino ouviu tudo o que o rei dizia e se emburrou, bufando em seguida. -Guarde seus conselhos pra si mesmo, não lhe pedi nada. -Diria ele parando de andar na entrada do corredor que levava a outra parte da sala onde havia a escada. -Eu nem sabia que tinha andar abaixo da prefeitura. Eu não teria como quebrar o chão como esse monstro fez, então... Boa sorte. -Diria ele passando pelo corredor, mas mesmo a distância e ele falando baixo, T'challa ouviria como se estivessem um ao lado do outro. Nisso o rei analisaria a queda, apesar da falta de visão sobre o chão, não lhe pareceria arriscado pular e dessa forma ele pulou num mergulho profundo onde cairia em pé, com os joelhos levemente dobrados para que não sofressem com o impacto. Seus pés sentiriam a água lhe cobrir, o solo era de terra e ali era como um túnel sob a cidade, com paredes de terra e pedras, pilastras de madeira grossa, sem luz e cheio de umidade da água. Ele não encontraria Liliana nem o monstrengo que caiu ali junto com ela, porém com seus pés, poderia sentir no chão as pegadas dele. Sua visão se ajustaria um pouco a falta de luz, porém não conseguiria ver muito além que sombras mais escuras que o escuro em si, lhe informando se tinha algo na sua frente e as paredes.

Onuris cresceria no momento em que sua forma de leão voltava a ser mais presente, deixando-o musculoso perante à armadura colada ao corpo. Além disso entoou uma oração para os seres espirituais de seu povo, como um mantra de evocação, buscando por ajuda e guia. Não haveria nada no momento em que ele usaria pra vistoriar o derredor, porém nada mudaria do que ele já sabia, a não ser uma sensação de que algo estava sob seu ombro direito. Assim que ele olhasse, e se olhasse, ele veria um pequeno Louva-Deus parado ali, um pouco transparente, mas ali firme, em pé e em silêncio, como se esperasse que T'challa lhe dissesse algo, pacientemente como era sua personalidade descrita nos pergaminhos da família. Mantis era seu nome, sabedoria era uma de suas qualidades, e se T'challa tinha alguma dúvida, ele provavelmente a esclareceria.

O louva-deus ouviu com atenção o que o Simba lhe falava, continuando em silêncio por um tempo, quase como se tivesse todo o tempo do mundo para aquelas respostas. -Só há um caminho visível neste túnel, e ele lhe leva a um lugar cheio de revelações. Ela está seguindo o caminho que se sente, mas não se vê. Todo o início se encontra aqui. Nem sempre dá pra se salvar todos... Há os que devem ser salvos, os que querem ser salvos e os que não querem ser salvos. -Diria ele em ordem de pergunta, o olhando de forma fixa e extrema calma, tanta que poderia quase fazer T'challa esquecer a urgência de sua missão.

Mantis sumiria após a resposta de T'challa, e nisso o leão rumava pelo único caminho que havia, andando com cuidado pra não pisar em nada, movendo pouco a água que cada vez parecia aumentar, ou o solo parecia descer... Aquela água tinha um cheiro diferente, como se estivesse contaminada com algo, mas que não conseguiria ver ou ter certeza do que era. Andando por um bom tempo, média de meia hora, o qual parecia uma eternidade ali dentro, T'challa ouviria um zumbido, como se uma corrente de ar passasse entre as rochas da parede. Um vento frio, que arrepiava os pelos de seu braço, mesmo com a proteção da armadura. Algo bem semelhante ao sobrenatural quando está forte... O caminho que ele percebia continuava reto, porém aquela brisa que vinha da direita, vinha da parede rochosa.

T'challa parou de andar na frente da parede que exalava o tal vento sobrenatural, e preferiu tentar descobrir o que seria e como abrir aquela passagem. Por falta da visão, seria muito complicado encontrar qualquer alavanca que pudesse abrir a passagem, porém colocando a mão sobre as rochas, ele conseguiria perceber que com sua força conseguiria mover a porta da passagem, mas ele precisaria usar toda sua força pra isso. Ele não teria como saber se aquela passagem era segura ou não, muito menos se daria no mesmo lugar que a estrada percebida.

T'challa conseguiu mover a pedra com suas mãos, abrindo primeiramente um pouco dela para depois iluminar o lugar com a outra mão e ver o que tinha por ali. Seu dom seria bem útil, lhe mostrando um corredor bem diferente do outro, sendo ele de placas de concreto e o chão era de massa corrida, sem aquela aguaceira toda do outro corredor. Não havia ninguém ali, mas o vento leve continuava soprando mais de dentro daquele corredor. Outra coisa que ele notaria seria luzes no teto, estas que estavam desligadas. Junto com a brisa, por alguns segundos ele sentiria o cheiro de Liliana junto com o cheiro de podridão do lugar, que pelo visto ainda teria muito o que andar.

O jovem Simba fez sua escolha, preferindo ir pé caminho seco com aparência de corredor mais bem estruturado, e não simplesmente um buraco na rocha. O caminho seguia adiante, sem nenhum tipo de ramificação ou outra passagem secreta, um corredor extenso, igual e entediante por mais meia hora de caminhada, seguida de retas e leves curvas. O cheiro de Liliana se manteria constante e nos minutos recentes mais forte. O jovem poderia ver ao longe uma claridade forte, como se fosse o final daquele tortuoso túnel. Assim que ele chegasse na saída, sendo está aberta para o lado de fora, e a claridade lhe chegasse por alguns segundos, o Simba veria um córrego de um rio vermelho, fluente e com correnteza. Agachada estava Liliana, olhando para a água e em seguida para ele que chegava alí. -T'challa, que bom que conseguiu me encontrar... Consegui despistar aquele monstrengo. -Disse se levantando e alongando um tanto. -Parece que encontramos a fonte desse mal todo. -Diria ela olhando dele para a água.

Liliana ouviria tudo o que o Simba tinha de falar, quieta e com os braços cruzados. -É por isso que não gosto de ficar à frente de missões em grupos. Eu não sei lidar com gente, eu lido com mortos por uma razão. Minha família toda era necromântica, ninguém lidava um com o outro, então não sei lidar com esses detalhes que vocês tem de querer saber tudo e se intrometer em tudo. -Disse suspirando. -Se eu não disse antes algo é por eu não ter a certeza do que iria falar, e se eu tivesse dito poderia encher a cabeça de vocês de caraminholas e atrapalhar o andamento da missão. Sobre o relógio, percebi sim o feitiço e pra que servia. E te falei que faltavam pedras para funcionar, agora não posso falar mais que aquilo ou eu estaria quebrando regras de meu clã, e que eu saiba você também não quebraria nenhuma regra de seu clã. -Disse encostando um dedo no peito dele de forma delicada. -A Pentex me escolheu pra ajudá-los por eu entender dos mortos, mas o poder dessa entidade ou seja lá o que for que controla esses zumbis acabou me afetando também... -Disse voltando-se para a água. -Essa água é com certeza a fonte que causou toda essa epidemia. Olhe com atenção... Vê uma energia vermelha se movendo junto com a água? -Nisso ela pegaria um punhado de água na mão como uma concha e se T'challa olhasse, veria como se a energia estivesse dentro da água, tentando tomá-la por completo. -As pessoas comuns não vêem isso, elas vêem água normal, então se usam esta água para beber, cozinhar ou medicar, muitos foram infectados. Eu tinha algumas suspeitas, mas como não tinha vindo aqui ainda, haviam dúvidas. Só não sei se o shinsengumi conseguiu chegar neste local, mas seria estranho eles encontrarem essa água e não levarem uma amostra. -Diria ela pra T'challa de forma aberta, jogando a água de volta no rio e se levantando. -Qual o plano? -Perguntaria pra ele esperando que pensasse em algo.